Detalhes na Segurança no Trânsito
Comentar sobre a Segurança no Trânsito é abrir um leque em diversos aspectos, tais como o comportamento humano, legislação, as habilidades, perícias, responsabilidade, engenharia, fiscalização, educação, tecnologia, administração pública, meio ambiente, fenômenos adversos, enfim, uma lista imensa de fatores que influenciam a Segurança no Trânsito, daí tratar-se de uma complexidade muito extensa para que ocorra uma solução razoável.
Não somos no Brasil os únicos preocupados e envolvidos nas medidas corretivas e preventivas que atenuem as ocorrências que tantas vidas se perdem e muitos feridos graves aconteçam ano a ano no mundo.
Graças a Organismos mais estruturados e de uma amplitude internacional como a OMS Organização Mundial de Saúde, integrante da ONU, assim como a OPAS / Brasil (Organização Pan-americana da Saúde) também filiada a OMS, CONASS (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), ONSV (Observatório Nacional de Segurança Viária), ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) além de instituições privadas, juntamente com o Poder Público de cada Nação, muitas Ações para minimização das tragédias têm sido adotadas.
Uma das mais expressivas foi a implementação da Década 2011 a 2020 instituída pela ONU e envolvendo todos os países signatários no sentido de implementar muitas ações que reduzissem a mortalidade no trânsito em pelo menos 50%. O Brasil não conseguiu, mas obteve uma taxa menor nesse período.
Nova Década de 2021 a 2030 foi estabelecida através da Conferência de Estocolmo na Suécia renovando as metas e aumentando com a Visão de ZERO morte até 2050. (Mais detalhes sobre esse tema eu publiquei no Post Workshop para Grupo Diversificado Parte II)
Dentro desse escopo infinito, é muito apropriado lembrar do Artigo 29 § 2º do CTB Código de Trânsito Brasileiro:
Dentro dessa cadeia hierárquica, convém entender que o pedestre é o primeiro na ordem das prioridades pelas razões claras de que sua vida corre muito mais risco do que alguém embarcado.
Felizmente o respeito ao pedestre tem aumentado gradativamente no país, o que há poucos anos era praticamente ignorado ou restrito à algumas cidades, como Brasília, Petrolina, Petrópolis etc.
Mas afinal, quais as razões de tantos acidentes que provocam tantas perdas ou ferimentos graves de vida, transtornos morais e financeiros?
A origem desses eventos é muito estudada por diversos organismos, como IPEA, PRF, DETRANs, CONTRAN e a Sociedade Civil através de entidades especializadas que já mencionei acima. Há muitas coincidências no elenco das causas em diversos países do mundo. Em vista disso, vamos analisar algumas situações:
AS DISTRAÇÕES
Comecemos pelos pedestres. Muitos desconhecem as regras de trânsito e por isso atravessam as vias sem os cuidados necessários e sem obedecer aos sinais de pare ou siga onde existam. Além disso, arriscam a travessia correndo mesmo com sinal vermelho a eles ou então, estando próximos ao cruzamento, atravessam fora da faixa de segurança obrigando os motoristas a desviarem ou frearem subitamente e com isso ocasionando acidentes entre os veículos como agravamento além da possibilidade de atropelamento do próprio pedestre.
Outro fenômeno que nasceu com a explosão dos smartphones é a dispersão ou distração. As pessoas perdem o foco na caminhada enquanto manuseiam seus aparelhos, principalmente com mensagens que exige desviar o olhar para a tela. Assim, podem tropeçar em buracos, bueiros e o mais sério: não veem os veículos se aproximando.
Eu já testemunhei um fato digno de registro nos absurdos. O pedestre iniciou a travessia da rua quando o sinal verde começou a piscar (sinal que vai mudar para vermelho) e continuou a olhar a tela do celular e gesticular. Um motorista que também usava seu celular avançou o sinal ainda vermelho para ele e desviou do pedestre como se fosse um simples obstáculo. Ambos estavam tão distraídos que não se deram conta dos riscos que correram.
Do mesmo modo que pedestres se distraem com celulares, muitos motoristas acreditam ser seres superdotados de atenção e usam seus celulares dirigindo. Além da infração de trânsito, está comprovado cientificamente que ninguém consegue concentrar-se plenamente no ato de dirigir quando utiliza celular, principalmente textos. A capacidade cognitiva tem limites e os acidentes são inevitáveis. Esse assunto ainda vai render um Post exclusivo.
DISTRAÇÃO AO VOLANTE
A mais contundente distração ao volante nos dias atuais é pelo uso de celulares. Com a enxurrada de aplicativos, esses smartphones oferecem infinitas possibilidades de conexão aos mais diferentes recursos, além dos dois mais evidentes que são o telefone e as mensagens desde o SMS básico como WhatsApp, Telegram etc.
Comprovadamente por diversos meios científicos, o motorista não mantém a mesma concentração no ato de dirigir ao fazer uso de aparelhos celulares, GPS e outros dispositivos como telemetria, rádio comunicação etc. Ocorre que a capacidade cognitiva se reduz e o motorista "enxerga" mas não "vê" um risco eminente diante de seus olhos.
Basta você perceber um veículo trafegando sem alinhamento na faixa ou com velocidades que oscilam aos demais, retardando a saída de um semáforo e outras atitudes parecidas que é muito provável que o condutor esteja fazendo uso de um equipamento eletrônico.
Mesmo tarefas mais simples como apanhar um documento no assoalho, pegar um óculos no porta luvas, afastar um chinelo que está enroscando no pedal do acelerador, tudo isso são causadores do desvio de foco no ato de dirigir e isso aumenta exponencialmente o risco de envolver-se numa colisão traseira.
Esse fenômeno é chamado de DISTRAÇÃO MANUAL / COGNITIVA. De acordo com o Dr. David Strayer da Universidade de Utah, USA, os motoristas dirigindo e usando celulares passam por uma "cegueira" o que reduz 50% da compreensão do que veem.
Muitos motoristas usando um celular parecem retardados se comparados com os demais que seguem o fluxo.
A PREPOTÊNCIA
Alguns motoristas se auto intitulam imunes às alegações científicas sobre a perda da concentração pelas distrações. Afirmam que possuem anos e anos de experiência e podem dirigir até de olhos fechados, porém acabam fechando os olhos mesmo num esquife e causando danos graves a terceiros.
Pessoa presunçosa e inconsequente:
Se por um lado é muito importante a educação para as crianças sobre a Segurança no Trânsito desde os primeiros anos de aprendizado escolar, como conscientizar os adultos e veteranos que além de cometeram infrações, expõe a si e aos demais a elevados riscos e são péssimos exemplos para as crianças?
A Educação no Trânsito é um curso permanente e requer envolvimento incondicional de todas as pessoas, mesmo aquelas que se limitam ao papel de pedestre. Aproveito aqui para comentar um erro meu que cometi e reconheci sem nenhum poder de argumentar.
Estava no passeio da Rua Oeste / Hastings em Vancouver, no Canadá e decidi atravessar a via no meio do quarteirão. Olhei para ambos os lados e nada de carros, dava para atravessar de olhos fechados. Não tive dúvidas, Fui!. Mal coloquei os pés na calçada oposta, uma Policial encorpada colocou a enorme palma de sua mão contra meu peito e perguntou se eu queria morrer?
Disse a ela que não vi nenhum problema e fui logo cortado. Ela educadamente disse a mim que as faixas de segurança têm esse nome para a minha segurança e que os motoristas ali reduzem a velocidade e aguardam as travessias. Que eu agindo assim poderia ser atropelado e causar problemas sociais e se sobrevivesse ao acidente, nunca mais colocaria os pés no Canadá. Caramba, precisa de todo esse sermão? Ela foi bem incisiva e disse que eu poderia estar seguro da minha travessia mas, uma criança poderia copiar minha atitude e ser atropelada. Aí eu me calei, pedi desculpas e saí de cabeça baixa refletindo como uma sociedade preparada para a Educação no Trânsito se difere de um cenário onde as infrações são normais!
Voltando ao caso das distrações cognitivas para encerrar, foi realizado um Estudo Científico na Universidade de Utah-USA que achei muito interessante. Veja na imagem abaixo:
Para evitar as distrações, algumas dicas são bem comprovadas.
Abordamos nessa parte VI do Workshop principalmente as questões das distrações. Nos posts subsequentes novos temas que comprometem a segurança no trânsito serão objeto de análises e comentários.
Até lá!
Thyrso Guilarducci
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