Distância segura do veículo à frente
Nesse post de número 11 estamos avançando no Workshop, entre diversos temas, vamos comentar um importante fator que está na distância de seguimento ou em outras palavras, o quanto devemos nos posicionar atrás do outro veículo para não correr riscos de colisões traseiras numa parada repentina.
Na maioria dos cursos de Direção Defensiva praticados por organismos credenciados ou independentes dos DETRANs, eles mencionam a regra dos dois segundos. Isso não está errado, até certo ponto.
As distâncias de parada nos dois segundos podem sim funcionar para automóveis, em pista seca com velocidade não superior a 80 km/h e dirigindo com plena atenção. Isso porque se demandar muitas frações de segundos para reagir e iniciar a frenagem pode não haver tempo restante para pressionar o pedal de freio e fazer o veículo parar antes de uma colisão.
A maioria dos motoristas conhece, mas não me custa repetir.
Do que se tratam esses dois segundos? A regra ensina que o motorista atrás de outro veículo deve observar quando o veículo da frente passe exatamente por uma marcação (pode ser um poste, uma placa, um pilar de viaduto, etc.) e imediatamente mentalizar os dois segundos, dizendo por exemplo, um milhão e um, um milhão e dois! Falando esse texto sublinhado sem pressa nem lentamente, gasta-se os dois segundos.
Se seu veículo chegar ao local marcado antes de dois segundos, você estará muito próximo do veículo à frente. Retire o pé do acelerador e mantenha maior distância. Faça novamente outra contagem. Se for igual ou anterior à passagem do mesmo ponto, ótimo.
Esse exercício está comprovado mundialmente como uma das possibilidades para os automóveis. Mas, e os veículos pesados como ônibus, caminhões e carretas?
Aí a coisa se complica um pouco e é nesse tema que vou aprofundar um pouco mais.
Considerando que os veículo pesados possuem uma massa e volume muito maior que um carro de passeio, naturalmente são mais lentos para alcançar determinada velocidade (vencer a inércia) assim como são mais retardados para uma parada total.
Já entenderam então que os dois segundos para caminhões e carretas não são suficientes, imagino que sim. Então qual a distância segura? Vamos lá!
Primeiramente devemos entender um pouco mais sobre a aderência sobre o pavimento e quais as distâncias necessárias para uma parada total conforme o tipo de veículo. Veja na tabela abaixo a praticamente 90 km/h quais foram as distâncias de parada total comparativa entre automóveis e carretas.

De acordo com o estudo, automóveis param em 59 metros e uma carreta carregada que já esquentou os freios chega a 131 metros. Um diferença gritante. Se os freios da carreta estivessem frios, o espaço para parada total cairia quase que pela metade.
Nessa dinâmica, existem ainda outros fatores e são proporcionais com a velocidade e tipo do veículo. Numa tabela mais completa abaixo, a NHTSA (National Highway Traffic Safety Administration) órgão executivo de controle das rodovias nos Estados Unidos desenvolveu os parâmetros e assim quais as distâncias necessárias para uma parada total conforme a velocidade e o tipo do veículo. Eu converti para km/h e metros por segundo.

Se conhecemos a distância em metros por segundo, variável conforme a velocidade, para aplicar a tabela dos segundos basta entender o tempo para uma parada total e adotar conforme o quadro acima.
Exemplo: um automóvel ou van a 90 km/h desloca-se a 26 metros por segundo e consumirá 55 metros para a parada total. Se usar a regra dos dois segundos ele deveria parar aos 52 metros, porém vai na realidade parar só com 55. Nesses 3 metros a mais é o suficiente para atingir o veículo da frente. Nesse caso, aplicar 3 segundos seria o recomendado.
Veja outro exemplo extremo. Uma carreta de 6 eixos a 85 km/h somente vai parar após 155 metros. Se ela percorre 25 m/seg, então 155/25=6,2 segundos de espaço no tempo. Na prática, aplicar 7 segundos. Veja que distância dos dois segundos famosos.
Há ainda carretas bitrens de 9 eixos que não é raro andaram a 120 km/h (imprudência) e que exigem 353 metros para uma parada total. Precisaria de 11 segundos de distância aplicando-se a mesma regra.
Todas essas medidas até aqui comentadas são para pistas de asfalto em ótimas condições e com tempo seco.
FATORES PRÓS E CONTRAS
Na quadro abaixo observamos que a tecnologia mais recente ajuda e muito na redução da velocidade e parada total. Isso é muito bom em nome da segurança.

A INFLUÊNCIA DO PAVIMENTO
O tipo do pavimento pelo qual se transita é fundamental no cálculo para parada total de um veículo. Tomando como base uma carreta de 6 eixos devidamente carregada, se a pista for de concreto novo e rugoso, a 60 km/h bastam 54 metros, se a pista estiver seca.
Nessas mesmas condições, porém em terra batida com seixos ou pedriscos soltos são necessários 70 metros.
No caso de ambas as vias estiverem molhadas, passariam para 69 e 80 metros respectivamente. Veja nos quadros abaixo algumas variáveis de pavimentos. Primeiramente na condição seca e depois na pista molhada.


INCALCULÁVEIS CONDIÇÕES
Pode parecer um absurdo, porém é incalculável o espaço para parada total em algumas condições. A imagem abaixo é bem explicativa.

O desleixo com a manutenção e uso de pneus sem a menor condição, além de ilegal, provocam riscos imprevisíveis e com graves consequências. Infelizmente não é raro ver-se veículos nessa condição trafegando pelo país.
O MODELO NORTE AMERICANO
Nos Estados Unidos, Canadá e México, praticamente possuem as mesmas doutrinas preventivas aos acidentes graças ao pacto entre os três países através do NAFTA - North American Free Trade Agreement que foi de certo modo a inspiração ao nosso MERCOSUL. Através dos regulamentos do FMCSA que é o equivalente ao nosso DNIT, tornou-se comum aos três países o intercâmbio comercial e aduaneiro com muita celeridade nos processos, embora a Lei tenha muitos requisitos e complexidade, pode-se entrar e sair desses países em questão de minutos.
Com base nesse premissa, as escolas e organismos de treinamentos para segurança e direção preventiva, têm as mesmas recomendações e facilitam até mesmo com a inclusão da língua espanhola para os latinos.
Mesmo com alta evolução nesse sentido, principalmente nos Estados Unidos e Canadá não são imunes aos acidentes. As condições meteorológicas prejudicam demasiadamente a segurança no trânsito.

Vejam no vídeo a seguir um evento recente no estado americano do Texas onde uma forte nevasca formou gelo sobre a pista e como consequência um monstruoso engavetamento de veículos que ocasionou mortes e feridos além de 70 veículos amontoados em fevereiro de 2021.
(Fonte Global News de Fort Worth - Texas USA)
Com base nas recomendações Norte Americanas das principais instituições de treinamento para os motoristas de caminhões, a distância de segurança do veículo à frente deve obedecer a critérios que conforme existam, aumentam a distância necessária, seguindo a tabela abaixo.

De modo geral são 11 situações que podem acrescentar 1 ou 2 segundos. São elas:
Velocidade acima de 65 km/h - 1 seg
Chuva - 1 seg
Noite - 1 seg
Fumaça - 1 seg
Neve - 1 seg
Gelo - 1 seg
Carga Perigosa - 1 seg
Tração comprometida - 1 seg
Nevoeiro - 2 seg
Vento forte - 2 seg
Cavalo sem carreta - 2 seg
Outro fator que é levado em conta é que qualquer caminhão, independentemente de qualquer coisa deve ter 7 segundos de separação. Depois disso, considerar 1 segundo a cada 3 metros do comprimento do conjunto. Exemplo, carreta com 18 metros, seria 6 segundos. Como o mínimo são 7, considerar este tempo.
Outro fator importante é a velocidade que quanto maior mais segundos exige.
Com base nesses cálculos, supondo uma carreta com 25 metros total a 90 km/h ficaria assim recomendada pela tabela abaixo:

Observar que devido a 8 fatores adicionais, a distância recomendada aumentou para 16 segundos. Nesse caso hipotético, o cenário era bem ruim:
Velocidade alta, chovendo, à noite, com neve, gelo, transportando carga perigosa, pavimento escorregadio e algum nevoeiro. Ou seja, uma somatória de dificuldades.
COMO CALCULAR E MANTER A DISTÂNCIA RECOMENDADA?
Aí está o desafio chave. Se o motorista reduz sua velocidade e se distancia do veículo à frente, logo alguém preenche o espaço com seu veículo e isso interrompe sua distância segura. Resta reduzir um pouco novamente e afastar-se desse "intruso".
Certamente outros e outros farão isso e a segurança depende do equilíbrio mental para não entrar em sintonia com os afoitos e esquecer as regras da segurança.
De fato, ser motorista profissional de carretas exige um bom senso rigoroso.
Esse exemplo norte americano pode ser plenamente aplicado aqui no Brasil, pois a segurança é levada a sério, mesmo com tantos problemas que enfrentam devido à neve e gelo.
Aproveito para comentar uma atitude muito perigosa por muitos motoristas norte americanos, especialmente nos Estados Unidos. Não importando as regras de segurança, avançam com seus automóveis, vans, pickups, caminhões e carretas "colando" no veículo da frente. Isso é altamente arriscado e muitos acidentes que envolvem facilmente 3 a 5 veículos ocorrem quando uma parada súbita desencadeia colisões e veículos desgovernados.
Essa imprudência vem sendo observada e fiscalizada com rigor pelos policiais em todo o país, também no Canadá e México, chamado de tailgating que pode ser traduzido literalmente para "caçar o rabo". Uma atitude insana e que devido à tantas ocorrências, resultou em ações mais intensas na fiscalização.
Outro fenômeno classificado como criminoso é a manobra brusca de uma camionete ou mesmo carro menor entrando na frente de uma carreta que segue na sua faixa na velocidade da via, por exemplo 80 km/h e o carro menor freia inesperadamente de modo que o motorista do caminhão não tenha espaço para desviar ou parar e a colisão traseira ocorre. Isso favorece ao infrator pleitear uma indenização para reformar seu veículo que já mantinha problemas mecânicos de custo elevado para reparos e assim, conseguia um recurso de alto risco legal e real. Muitos foram esmagados pelas carretas e levados à óbitos. (veja o curto vídeo abaixo!)
Fonte: King of the Road video
Atualmente a maioria das carretas e caminhões americanos são dotados de dashcam, uma câmera instalada no parabrisas que registra toda a movimentação de hora em hora e num evento desse tipo pode ser prova do ato criminoso que levará o autor para os tribunais penais. Como veem, na América do Norte há muitas circunstâncias negativas para a imagem de um país famoso pela grandeza e infraestrutura impecáveis.
Por falar em motorista de carreta, no próximo post explicarei como é o rigor para a aprovação no exame a uma CNH categoria A (Lá denominado de CDL) para carretas nos Estados Unidos. Isso servirá de base para entender porquê e raramente se vê uma carreta detonada circulando nas rodovias americanas. As temidas inspeções que são 8 delas e avaliam item a item a segurança e integridade do veículo por policiais vestidos de macacões e sem medo de enfiarem-se sob as carretas e sujar as mãos de graxa.
Até o próximo!
Obrigado pela leitura
Thyrso Guilarducci
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