6 - Acidentes são previsíveis
O tema dos acidentes é realmente uma das mais expressivas nos conteúdos da Segurança no Trânsito. Por essa razão, faço questão de persistir pelas informações ao máximo possível sobre as causas, efeitos e consequências adversas dos acidentes. Mesmo repetindo algum desses temas, é compreensível pelos elevados propósitos das informações que têm por objetivo a prevenção dos acidentes com a adoção de comportamentos mais seguros ao dirigir.
Relato pessoal
Quando comecei a aprender a dirigir veículos pesados, no caso as carretas, ainda sem conhecer os "macetes" que ajudam nas prevenções dos acidentes, um dia fui fazer uma entrega de uma carga leve, tipo cigarros mas com lotação total. O furgão estava lotado do piso ao teto e a carga toda não passava de 8.000 kg numa carreta com 92 m³.
Isso é aquela situação na qual o centro de gravidade se eleva pela carga chegar até o teto.
Ao passar numa depressão em diagonal , uma espécie de calha para drenagem de águas, eu prossegui minha marcha apenas reduzindo um pouco a velocidade e "enfiei o pé" no acelerador assim que o cavalo passou. O semirreboque com três eixos assim que passou ergueu as rodas do lado do motorista cerca de meio metro saindo do chão. Eu só observei isso pelo retrovisor e por reflexo girei rapidamente o volante para a direita e as rodas voltaram gradativamente ao asfalto.
Foi por um segundo que eu não fazia a carreta toda tombar para a direita provocando um enorme acidente e prejuízos que certamente me custariam muito caro, incluindo o emprego.
Imagem meramente ilustrativa - desenhos pelo autor
Como consequência da manobra brusca eu nem observei alguns galhos de árvores e a frente da carreta sofreu pequenas mossas que pedi os consertos logo que voltei para a empresa. Isso tudo me chamou a atenção pelos mínimos cuidados e prevenções que se deve ter ao conduzir um veículo desse tipo por vias irregulares. Uma carreta não é um automóvel ou uma caminhonete. Mesmo em baixas velocidades pode perder a estabilidade.
Lição aprendida, comentei o fato com os demais motoristas e claro que os mais veteranos fizeram algumas piadinhas. Passada a fase do humor, todos refletiram pelos cuidados e pela minha humildade em admitir o erro mesmo sendo chefe deles.
A segurança está acima da vaidade!
Sempre é bom relembrar que são três os principais fatores que causam as colisões.
O Condutor
Pelo seu comportamento em diversas atitudes contrárias à Segurança no Trânsito!
As distrações, uso de celulares ou aparelhos eletrônicos, mais grave ainda enviando ou lendo mensagens, procurando papeis no porta luvas ou assoalho, conversando animadamente com passageiro, fadigado, com sono, sem descansar, olhando fixamente algum endereço na rua, abusando da velocidade, não respeitando as regras de trânsito, com carga mal acondicionada, entrando em curvas com velocidade incompatível mesmo estando abaixo do limite, enfim, uma infinidade de falhas que numa fração de segundos podem ocasionar um trágico acidente.
Outro fator do condutor está na inabilidade. Sim, mesmo sendo habilitado para determinada categoria, por exemplo letra C, ele pode dirigir um veículo que exige essa categoria, porém é fundamental que conheça o veículo, o comportamento ao frear, ao fazer curvas e as funções básicas.
O Veículo
Veículos cuja manutenção foi negligenciada é um elevado fator de risco. Componentes fundamentais como direção, freios, suspensão, pneus, parte elétrica podem provocar uma pane e algum acidente como consequência.
Já mencionei em post anterior a importância de manter o veículo devidamente em dia com a manutenção, assim como a carga dentro dos parâmetros dimensionais e de peso. Cargas mal distribuídas ocasionam desequilíbrio que facilitam um tombamento além dos danos à via e as multas por excesso de peso.
O Ambiente
Esse item não é uma responsabilidade do motorista pelos possíveis problemas existentes. As condições adversas possuem diversas origens, como clima (chuva, nevoeiro, neve, gelo, ventos fortes e rajadas, enchentes etc.), conservação, sinalização, topografia, desmoronamentos, geometria inadequada por falha de projeto ou ultrapassada.
Um bom condutor deve se sensibilizar para todo esse quadro de anomalias e adotar medidas preventivas. Por exemplo, a neve não despenca do nada em dia de um sol radiante com 35 graus C. Ela se forma em temperaturas próximas de zero grau, no inverno ou montanhas muito elevadas. Assim, sabendo do ambiente no qual está trafegando, adotar os cuidados necessários. A mesma coisa quando viajando numa rodovia deficitária. Se o perfil da via não é confiável, a velocidade deverá ser ajustada para a condição.
Aí está um exemplo de comportamentos inadequados ao volante e que podem ocasionar acidentes. Medidas simples, mas eficazes. Certifique-se de que realmente há condições de efetuar uma mudança de faixa ou conversão em segurança.
As distrações também lideram as causas de acidentes. Sua mente pode desligar da direção por alguns segundos para ver outra coisa...Mas o veículo prossegue às cegas!
Quanto ao veículo, lembrando que ele é um dos três elementos que são classificados como causas dos acidentes, os cuidados não se limitam às revisões mais estruturadas que são programadas pelo fabricante e adotadas pelos proprietários a cada intervalo de quilometragem ou tempo em meses ou anos.
As inspeções básicas devem ser feitas antes, no percurso e ao final de uma viagem. É dessa forma que se detectam alguma anomalia que pode se tornar um grande inconveniente parar numa estrada ou ainda o pior: um acidente por descuido de uma simples verificação como uma roda que estava com as porcas ou parafusos soltos.
Recomendações de um condutor inteligente e precavido
Algumas condições da via a considerar
Existe uma condição que é intensamente praticada pelos pilotos de aeronaves. Trata-se de saber onde se está a cada momento, como está a performance do voo em todos os sentidos, estar convicto de não estar espacialmente perdido e sempre na mente uma questão.
Isso mesmo, e se o motor parar, e se acabar o combustível, e se acontecer uma briga a bordo, e se o controle mandar pousar imediatamente porque houve ameaça terrorista...?
Todas essas e muitas mais perguntas começando com o "E se" são exercícios que uma tripulação deve ter pronta resposta e acima de tudo, prontas ações para atenuar ou resolver o problema. Por exemplo, em caso de necessidade de um pouso de emergência qual aeroporto mais próximo possui recursos para receber a aeronave, a pista é apropriada, há tempo hábil para chegar até lá? Trata-se de incêndio a bordo? quantos minutos tenho para colocar a aeronave no solo antes de que seja afetada totalmente?
Voltemos a boleia!
Na cabine de um caminhão não se chega à essa magnitude de detalhes, mas muitas probabilidades são parecidas. Uma súbita interrupção da via, um pedestre desatento que invade a pista, um motorista "sem noção" fecha a passagem porque está usando um celular, a carga ou uma roda do caminhão que segue à frente cai na pista, um enorme buraco aparece lá na frente e precisa ser evitado.
Todas essas possibilidades do "E se" devem estar intuitivamente na mente do bom motorista. Não ser surpreendido negativamente por uma ocorrência devido às distrações. Isso conta muitos pontos na prevenção!
Veja um exemplo do "E se" abaixo
Observando a imagem acima, há três carretas. A da esquerda do cavalo mecânico vermelho segue sua marcha normalmente. A do meio é a que está filmando e seguindo na faixa da direita. Logo adiante uma terceira carreta de cavalo mecânico branco está entrando na pista procedente de uma alça de acesso.
O motorista do meio não reduziu sua marcha devido a uma distração e acabou sendo prensado por ambas as carretas. Ele sentiu-se uma salsicha no meio de duas fatias de pão. Esse foi um caso real nos Estados Unidos que resultou apenas em danos materiais, felizmente.
Uma colisão que poderia ter sido evitada se tivesse foco máximo na direção.
Essas circunstâncias são normais na dinâmica das estradas e vias urbanas. Vamos prosseguir no próximo post desta série porque esse assunto de fato é muito interessante.
Obrigado pela leitura
Thyrso Guilarducci
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